sexta-feira, 24 de abril de 2015

Lótus - Prólogo

          Problemas.
           A cidade de Cargo se localizava em uma ilha. Três pontes a ligavam com o resto do mundo e todas elas haviam sido bloqueadas para que a desconhecida e repentina doença que, aos poucos, exterminava todos os cidadãos de lá, não deixasse a cidade e causasse ainda mais vítimas.
           As pessoas estavam morrendo aos montes, mas o estado responsável tomava providências para que pudessem controlar a situação da melhor maneira possível e, principalmente, descobrir uma cura.
- Me dê o relatório completo, capitão. - Disse o militar fardado enquanto caminhava com pressa por um corredor bem iluminado.
- Foram pouco mais de um milhão de mortes até agora registradas, mas os números vêm diminuindo exponencialmente, coronel. – Falou o capitão, enquanto checava sua prancheta andando em passos largos para acompanhar seu superior. - A cidade tem uma área de aproximadamente 250km² e no momento cerca de vinte e cinco mil habitantes.
- Já descobriram o meio de contágio?
- Ainda não, senhor. A cidade foi posta em quarentena até descobrirem a causa e a cura. As três pontes que ligam a cidade ao resto do mundo foram fortemente bloqueadas, e os habitantes foram informados de que qualquer tentativa de fuga da ilha por qualquer meio de transporte, seja por céu ou por mar, será interditada pelo governo e considerada um crime punível com morte. Senhor, se me permite dizer, acho que essa atitude é um pouco extrema por parte do governo.
- Eu entendo seu ponto de vista. - O coronel parou e se virou para o capitão, seu grosso bigode branco tremeu enquanto arfava. - Mas um milhão de pessoas morreram em uma semana. Não podemos arriscar que isso se alastre para o resto do país. As medidas tomadas pelo governo são extremas, mas a situação requer uma atitude a altura.
- Eu sei senhor, é só que... - O capitão secou o suor da testa com a manga direita de sua farda - Eles estão tratando os moradores como prisioneiros enquanto os mesmos morrem a cada segundo. Esse relatório pode muito bem ser o último. Me informaram que todo contato com o mundo exterior já foi cortado. O acesso a internet foi bloqueado e até as linhas telefônicas de lá não recebem sinal. Tudo para que a notícia não se espalhe e cause tumulto. Isso é antiético. As pessoas que moram lá podem muito bem ter famílias do lado de fora. Famílias que não receberão notícia sequer do caos em que se encontra a cidade.
- Não vou discordar de você. Apesar disso, tenho certeza que será feito todo o possível para ajudar os moradores.
- Aqui diz que o fornecimento de energia elétrica, água e gás será mantido, assim como uma distribuição semanal de mantimentos por via aérea.
- Prevejo muita destruição naquela cidade, proveniente do medo e da desorganização. O máximo que pode ser feito é suprir as necessidades básicas daqueles que ainda vivem enquanto não encontramos a cura.