Problemas.
A
cidade de Cargo se localizava em uma ilha. Três pontes a ligavam com o resto do
mundo e todas elas haviam sido bloqueadas para que a desconhecida e repentina
doença que, aos poucos, exterminava todos os cidadãos de lá, não deixasse a
cidade e causasse ainda mais vítimas.
As
pessoas estavam morrendo aos montes, mas o estado responsável tomava
providências para que pudessem controlar a situação da melhor maneira possível
e, principalmente, descobrir uma cura.
- Me dê o relatório completo, capitão. - Disse
o militar fardado enquanto caminhava com pressa por um corredor bem iluminado.
- Foram pouco mais de um milhão de mortes até
agora registradas, mas os números vêm diminuindo exponencialmente, coronel. –
Falou o capitão, enquanto checava sua prancheta andando em passos largos para
acompanhar seu superior. - A cidade tem uma área de aproximadamente 250km² e no
momento cerca de vinte e cinco mil habitantes.
- Já descobriram o meio de contágio?
- Ainda não, senhor. A cidade foi posta em
quarentena até descobrirem a causa e a cura. As três pontes que ligam a cidade
ao resto do mundo foram fortemente bloqueadas, e os habitantes foram informados
de que qualquer tentativa de fuga da ilha por qualquer meio de transporte, seja
por céu ou por mar, será interditada pelo governo e considerada um crime punível
com morte. Senhor, se me permite dizer, acho que essa atitude é um pouco
extrema por parte do governo.
- Eu entendo seu ponto de vista. - O coronel
parou e se virou para o capitão, seu grosso bigode branco tremeu enquanto arfava.
- Mas um milhão de pessoas morreram em uma semana. Não podemos arriscar que
isso se alastre para o resto do país. As medidas tomadas pelo governo são
extremas, mas a situação requer uma atitude a altura.
- Eu sei senhor, é só que... - O capitão secou
o suor da testa com a manga direita de sua farda - Eles estão tratando os
moradores como prisioneiros enquanto os mesmos morrem a cada segundo. Esse
relatório pode muito bem ser o último. Me informaram que todo contato com o
mundo exterior já foi cortado. O acesso a internet foi bloqueado e até as
linhas telefônicas de lá não recebem sinal. Tudo para que a notícia não se
espalhe e cause tumulto. Isso é antiético. As pessoas que moram lá podem muito
bem ter famílias do lado de fora. Famílias que não receberão notícia sequer do
caos em que se encontra a cidade.
- Não vou discordar de você. Apesar disso,
tenho certeza que será feito todo o possível para ajudar os moradores.
- Aqui diz que o fornecimento de energia
elétrica, água e gás será mantido, assim como uma distribuição semanal de
mantimentos por via aérea.
- Prevejo muita destruição naquela cidade,
proveniente do medo e da desorganização. O máximo que pode ser feito é suprir
as necessidades básicas daqueles que ainda vivem enquanto não encontramos a
cura.