95º Torneio de Magia de Vondan
A estrela cadente de Harenboulg
cruzou o céu noturno, dando início ao torneio de magia de Vondan.
Representantes das escolas de magia de todos os continentes esperavam
impacientemente por esse dia. Participar do evento surpresa anual na esperança
de ser o reconhecido Arquimago e levar para sua academia todo o prestígio que
tal título carregava consigo.
Os fogos de artifício
transformaram a noite em dia. As cargas mágicas de luzes cromáticas eram
disparadas pelos representantes da academia de Fay-Lu, grandes mestres em magia
luminescente. Neste ano não foram escolhidos para participar do torneio, mas
não deixaram de comparecer e fazer sua contribuição. O show de explosões era
realmente magnífico. De tirar o fôlego. O carmesim deslumbrante, o índigo
tranquilizador, o verde enérgico seguidos enfim pelo púrpura nostálgico.
A multidão ululante nas arquibancadas bradava hinos rítmicos enquanto o domo mágico era erguido para a proteção da mesma.
A multidão ululante nas arquibancadas bradava hinos rítmicos enquanto o domo mágico era erguido para a proteção da mesma.
Duas horas se seguiram para que
os magos de Tyani, especializados em ilusões tangíveis, fossem capazes de
expandir em duzentas vezes a parte interior da arena, mas apenas para os
competidores. E também criarem suas realistas e surrealistas áreas naturais,
baseadas em terrenos de seu mundo e de seus livros.
Os dez participantes estavam em
suas respectivas salas, meditando junto a suas gemas de mana, artefatos capazes
de restaurar a piscina espiritual de energia interior da qual os magos
retiravam o poder para conjurar suas magias.
O atual Arquimago, o vencedor do
torneio do ano passado, Tin Forgo, representante da escola de magia de Yuga
Monta, especializada em transfiguração, fora convidado para realizar o discurso
de abertura e, lá estava ele. A imensa ave de rapina cuja sombra das asas era
suficientemente grande para enegrecer metade da arquibancada.
Ele rodopiou enquanto descia num
rasante até o pódio. Seu tamanho diminuía conforme se aproximava. Ao atingir a
altura de um humano adulto, sua forma se modificou. As penas encolheram
enquanto as pernas se esticaram. Cores embaçadas foram se moldando até, por
fim, revelar o excêntrico Tin.
- Sejam todos bem vindos ao torneiro anual de magia de
Vondan, nonagésima quinta edição. - Anunciou o homem, falando na ponta de seu
cajado mágico que amplificava sua voz para que todos o pudessem ouvir. - Hoje,
venho com muito orgulho anunciar o começo do evento e lhes revelar as regras
desse ano.
O público foi à loucura. A reles
presença de Tin incitava o delírio. Conhecido por sua simpatia e habilidade,
ele havia conquistado com certa facilidade o título de Arquimago no ano que
passara. Daquela vez, havia sido uma corrida. Os magos de Tyani se certificaram
de dificultar o percurso de todas as maneiras possíveis. Mares extensos com
criaturas mortíferas, tundras gélidas, desfiladeiros traiçoeiros entre outros
obstáculos mais. Tin não se abalara. Sua forma fora sempre incerta. As vezes
aves, outrora cardumes inteiros e em certo momento uma borboleta sorrateira.
Enquanto outros competidores se digladiavam pela primeira posição, mal sabiam que
apenas a segunda estava em jogo, pois Tin já havia a muito tomado a dianteira.
Uma vitória unânime que levou cerca de treze horas.
- O evento desse ano será uma batalha de vida ou morte, de
onde apenas um mago sairá. - A multidão enlouqueceu. Já haviam boatos de que
nesse ano algo do tipo aconteceria. Estavam todos ansiosos por um evento até a
morte como não acontecia faziam anos. - Os dez competidores estão preparados
para dar tudo de si nessa arena. Caso contrário, bem, vocês sabem.
A película mágica do domo que
separava a arena da arquibancada brilhou em diversas cores desordenadas, deixando
os espectadores boquiabertos. Os retângulos dos oráculos foram então jogados
aos céus. Eram enormes telas mágicas rotatórias que transmitiam imagens de
dentro do domo, onde a batalha estava para ocorrer. Por enquanto os
participantes ainda não se encontravam na arena. O foco principal fora nos
cenários, já prontos e esperando para receber alguma ação. Uma savana árida que
se conectava a um grande e nuvioso lago. A enorme e densa floresta que colidia
com o confuso manguezal. O deserto seco que circundava a colossal montanha
nevada. Todos mortalmente intimidantes.
- Nossos participantes estão prontos. Os apresentarei agora.
Uma das telas brilhou mais forte.
Seu foco era em uma recente abertura em uma grande rocha, de onde uma mulher
pálida e miúda saiu. Ela vestia um robe branco adornado com flores de pano azul
claro.
- Da academia de magia de Huang, especializada em magia criogênica.
– Anunciou Tin enquanto a grande tela focava o rosto da mulher. – Pia Neil.
Algumas palmas e gritos puderam
ser ouvidas das arquibancadas enquanto a mulher, dentro da arena, parecia
procurar por um caminho a tomar.
A tela que mostrava Pia escureceu
enquanto outra mais acima resolveu se iluminar. Se arrastando de debaixo de um
monte de folhas, um homem alto e franzino se revelou. Ele usava roupas
rasgadas, como se realmente não se importasse com a aparência.
- Da academia de magia de Tan-Tan, especializado em magia pirotécnica,
Ung Galan.
A próxima tela a se destacar fora
a inferior. Era apenas um garoto. Ou era o que parecia. Tinha um rosto juvenil
e uma estatura baixa para sua idade. Sua barba nunca cresceu como deveria e ele
sempre fora motivo de piadas por isso. “Magos precisam de barbas.”, era o que
seu colegas diziam. Gus não aceitava isso. Ele se enraivecia. Treinou
arduamente por tantos anos, na esperança de um dia tornar-se o Arquimago e
poder esfregar isso na cara de todos aqueles que riram as suas custas.
- Da academia de magia de Doto-Vuan, especializado em magia
sedimentar, Gus Huei.
O homem já se encontrava
deslumbrando a ravina em que se encontrava. Não era uma visão comum para ele.
As paredes de pedra erodida com metros e mais metros de altura, cobertas em
alguns pontos pelo musgo verde tão vívido. Um córrego passava mais embaixo,
salpicado de pedras de todos os tamanhos, transformando a correnteza em um labirinto.
A passarela de madeira e metal, tão bem estruturada, que suportava seu peso. Quase
não dava para acreditar na beleza daquele lugar. Parecia magia e, de fato, era.
Os magos de Tyani estavam de parabéns pelo bom trabalho.
Ele seguiu em frente, sempre
alerta. Sabia que a chance de encontrar outro participante logo no início era
basicamente nula, visto que foram liberados na arena com no mínimo um
quilômetro de distância uns dos outros. Mas ainda assim, tinha que tomar
cuidado com a natureza ao seu redor, projetada para ser hostil de tempos em
tempos.
As regras do jogo lhes foram
passadas no dia anterior, quando juntos em uma sala comum. Descobrir a respeito
da batalha de vida ou morte trouxera um semblante preocupado a uns e um sorriso
sádico a outros. Gus não se importava. Ele estava ciente dessa possibilidade e,
para ser completamente sincero, não fazia questão de continuar vivendo para ser
motivo de risadas. Se ao menos tivesse o respeito de seus colegas de
academia... Mas mesmo sendo o mais forte e habilidoso dentre todos eles, mesmo
sendo o escolhido como representante no torneio anual de magia de Vondan, não passava
de um mago sem barba. Uma chacota.
Não podiam trazer armas
encantadas ou suprimentos de recarga de mana. Estavam ali dentro apenas com o
que tinham. Gus não era afetado negativamente por essa regra. Sua reserva
espiritual era vasta o suficiente para que pudesse conjurar magias por dias. E
também não era proficiente em qualquer tipo de arma. Preferia usar seus punhos
para resolver conflitos. A representante de Jyujigo estava fora de controle
reclamando com os organizadores. Ela dizia que sua reserva espiritual não era
tão vasta e que, embora fosse uma incrível e habilidosa maga, ficava dependente
de cristais de mana para recarregar seu poder e que a proibição de tais itens
tornaria o evento injusto. Quando os organizadores não cederam e deram-lhe uma
oportunidade de se retirar, ela ficou entre abrir mão de sua honra ou arriscar
a sua vida. Deveria estar escondida em algum lugar da arena agora, conservando
seu poder para quando restassem poucos magos de pé. Já o representante de
Fuuima dizia que, sem seus leques encantados, seu poder seria cortado pela
metade. A opinião dos organizadores era irredutível e, logo, ele provavelmente
também estava escondido em algum buraco.
Gus caminhou pela passarela.
Nunca tinha visto algo como aquela ravina. O som alto da água corrente ia
ecoando pelos muros disformes de pedra e causando nele uma desmedida calmaria.
Aquilo era incrível, mas conforme o tempo foi passando, a tal calmaria se tornou
torturante. A ravina parecia não ter fim.
Curvas iam e vinham. Direita e
esquerda, mas sempre em frente. "Ao menos não vou me perder.", ele
pensou.
Depois de horas de caminhada,
quando o sol artificial estava para se pôr, uma súbita lufada de vento perpassou
a ravina. Gus escutou seu assobio vindo por entre os paredões antes mesmo de senti-la.
Era agressiva. Ele se segurou no corrimão de ferro com todas as suas forças.
Podia, é claro, deslocar uma rocha grande para sua frente afim de bloquear a corrente de ar, mas não queria usar
seu poder mágico sem que realmente precisasse.
O vento chegou enfim. O assobio
se tornou grave e ensurdecedor. Seus pés começaram a ser arrastados para trás,
e, aos poucos, ele foi sendo tirado do chão. Logo ele estava abraçado ao
corrimão, erguido no ar, sendo soprado pelo vento como uma bandeira de pano.
Gus olhou para trás. Se ele soltasse do corrimão ou se o mesmo cedesse, seria
jogado contra a parede de pedra na primeira curva com uma força tremenda.
Quebraria alguns ossos. Quando ouviu o metal em suas mãos ranger, a ponto de
quebrar, ele avaliou melhor a situação. Procurou freneticamente por um meio de
sair vivo. Então se soltou.
Enquanto o vento o fazia dar
piruetas desordenadas no ar, ele movia suas mãos. Gesticulava um padrão. Suas
mãos produziram uma luz acinzentada bruxuleante e, atrás de si, a parede de pedra pareceu
se transformar em líquido. Nela ele mergulhou, como magia. A parede se
solidificou novamente, tão rápido quanto tinha se liquefeito, com Gus ainda
dentro dela.
O vento cessou aos poucos. A
ravina refletia em seu novo visual o episódio pelo qual passara. Rochas menores
se empilhavam em cantos, a passarela de madeira e metal desabara. Os destroços
da mesma se encontravam espalhados por todo lado.
Logo a calmaria torturante
produzida pelo córrego tornou a imperar. Gus estava bem. De dentro da parede
ele espiava o lado de fora. Se recusava a acreditar que aquela ventania fora
natural.
Dois minutos depois, um homem
alto se revelou depois da próxima esquina. Ele estava de pé no ar, levitando no
centro da ravina. Seus olhos acossavam as redondezas com afinco. Gus sabia que
o homem estava procurando o corpo de quem acabara de ser seu alvo. Para Gus, os
magos de ar eram um pé no saco. Sempre muito leves. Pareciam folhas ao vento.
Difíceis de acertar. Ainda por cima sentiam qualquer alteração no ar. Este,
provavelmente, sentira sua presença pela sua respiração, à metros de distância.
Agora viera se certificar de que abatera sua presa. Mas o mago do ar não sabia com quem estava
lidando e essa era sua desvantagem. Gus também fazia algo parecido. De dentro das
paredes de pedra ele conseguia se concentrar e se tornar um com a parede. Por
seu inimigo estar levitando ele não conseguia senti-lo, mas a corrente de ar
que o mesmo usava para levitar fazia cócegas em Gus quando roçava no paredão.
Assim ele tinha a localização do outro mago mesmo sem contato visual.
Enquanto o mago se aproximava,
levitando pelo ar, Gus se moveu por dentro da parede. Ali seu inimigo não
conseguiria sentir alterações no padrão do ar. Gus precisava prender sua
respiração para executar aquele movimento, é claro. Mas o tempo que seus
pulmões aguentavam seria mais que o suficiente.
Quando em posição, Gus realizou
seu ataque. Suas mãos brilharam no interior do paredão e logo uma grande pedra
se soltou, acima do mago do ar. Em reflexo, o mesmo se lançou para frente num
ângulo que o deixou perto demais da parede de pedra. Dela, uma parte pareceu
liquefazer-se e atacar o mago como a língua de um sapo, envolvendo por completo
a perna esquerda do mago e, em seguida, se solidificando, o deixando dependurado.
Gus mergulhou para fora da pedra
já com um grande sorriso no rosto.
- Você é o Vyan, não é? - Ele inquiriu em escárnio. – Vyan Moer, o ex-mago do ar.
- Você fala demais. O jogo só termina para mim quando eu
morrer. - Vyan respondeu com um sorriso forçado no rosto que entrava em
conflito com seu semblante preocupado.
Vyan então produziu uma lâmina de
ar numa velocidade impressionante, a lançando na direção de Gus. Era bem
rápida, mas não o suficiente. Um passo apressado para a esquerda o fez sair da
reta. A lâmina se chocou com o chão de pedra e fez voar algumas lascas e
poeira. Gus descobriu tarde demais que a lâmina de ar não tinha a intenção de
acertá-lo. Fora apenas uma distração para que Vyan pudesse escapar. O homem já
estava levitando rapidamente para o alto, mas não saíra impune. Vyan cortara
a sangue frio sua própria perna e a deixara para trás.
- Maldito. - Balbuciou Gus, incrédulo.
Ele sabia que Vyan não voltaria.
Sem seus leques encantados ele não arriscaria um confronto frente a frente. Mas
o evento não fora em vão. Enfraquecera um dos competidores e ainda conseguira
uma boa dica de como deixar aquela ravina.
Pelo alto. Ele estava se sentindo
idiota por ainda não ter pensado naquilo. Usou um pouco de seu poder mágico
para improvisar uma escadaria de pedra até a superfície.
De cima, a ravina parecia o
terreno de sua região natal, onde em tempos de seca no chão se formavam
fissuras. Dali Gus conseguia enxergar grande parte da arena. A floresta, a
montanha nevada e grande porção do deserto. A baixa visibilidade sob a luz da
lua artificial fez com que uma cena em específico chamasse sua atenção. Perto
do lago, à quilômetros de distância, dois pontinhos luminosos pareciam brigar.
Um deles produzia esferas e labaredas amarelas alaranjadas e o outro modificava
a própria forma. Grande, pequeno, duas patas, então quatro, asas, em seguida
chifres, sempre se adaptando para atacar ou defender-se de seu inimigo. Um
deles era o mago pirotécnico, Ung Galan, representante da escola de magia de Tan-Tan.
O outro pontinho era Jolene Fante, a representante de Yuga Monta, academia de
transfiguração. Tin, o atual Arquimago, deveria estar muito satisfeito em ver
que sua academia estava sendo muito bem representada este ano. A mulher fazia
parecer que lutar fosse algo fácil. Como se vivesse para momentos como aquele.
Os estudantes de pirotecnia eram vistos de fora como brutamontes destrutivos.
Era de se esperar que sua proficiência em batalhas fosse algo fora do comum.
Mas a verdade era que Ung não lutava mal, era só que, os movimentos de Jolene
eram de longe muito superiores.
Gus assistiu de longe a batalha.
Analisando seus oponentes. Suas técnicas e movimentos. Se preparando para
quando, cedo ou tarde, pudesse confrontar um deles.
Jolene agora era uma pantera, e
Gus só conseguiu identifica-la na noite quando esferas de calor implosivo
salpicaram o ar com seus estardalhaços. Ela fora jogada para trás pelas ondas
de choque, mas logo se levantou e permaneceu de longe. Seus olhos fixos em seu
inimigo. Ung juntou suas mãos acima de sua cabeça e começou a fazer crescer uma
enorme bola de fogo. Gus não era fã desse elemento, mas mesmo ele não podia
deixar de admitir que a cena era cativante. Era como se um novo sol estivesse
nascendo pelas mãos de Ung.
Quando a esfera alcançou cerca de
cinco metros de altura, Ung a arremessou no ar. Jolene estava apreensiva. Não
queria se aproximar sem antes saber do que aquela esfera se tratava. A esfera
levitava calmamente no ar. Línguas de fogo saltavam e mergulhavam de volta na
esfera como golfinhos brincalhões. Jolene não esperou mais. Estava perdendo
tempo demais assistindo ao espetáculo. Se transformou então em algum animal
minúsculo o qual Gus não conseguiu enxergar. Assim que ela o fez, Ung arregalou
os olhos espalmou o chão com ambas as mãos. A esfera então começou a se
desfazer. Ela cuspia partes de si para todo lado, produzindo uma chuva de
chamas.
Por menor que Jolene estivesse em
tamanho seria difícil escapar daquilo. De alguma forma ela conseguiu, da maior
parte ao menos. De repente ela cresceu novamente em tamanho, já em disparada na
direção de Ung. Ela era um carneiro montanhês com maciços chifres curvos.
Alguns pingos de chuva de fogo atingiram sua pelagem, mas isso não a parou. Ung
levou um golpe certeiro na boca do estômago que o jogou alguns metros para trás
com as costas no chão.
Ele se levantou com certa
dificuldade e disparou com sua mão esquerda uma labareda de fogo enquanto com a
mão direita ele gesticulava. Jolene se transformou novamente em algo pequeno
para desviar da labareda, e talvez nem tenha percebido que, logo atrás de si, a
esfera de fogo que planava no ar estava respondendo ao movimento da mão direita
de Ung e se aproximando. De súbito a esfera se dividiu em vários círculos planos
de fogo que se espalharam pelo campo de batalha numa velocidade incrível. A
cinco metros de distância do chão, todos os discos de fogo desceram em cascata.
Enormes pilares de fogo conflagraram uma extensa área. Gus se arrepiou um pouco
com aquela exibição de poder. Para Ung atingir tamanha porção de terreno
significava que ele não sabia onde Jolene estava. Para ela, desviar daquele
golpe seria uma tarefa hercúlea, e, mesmo se ela o fizesse, a alta temperatura ainda faria de sua vida um inferno.
Ela então surgiu por detrás de
Ung. Em sua forma humana ela socou com força a nuca de seu oponente. Ele
cambaleou para frente. Não satisfeita ela se transformou em um canguru
musculoso e, apoiada em sua cauda, o empurrou para frente com ambos os pés. Ung
foi jogado para dentro de sua própria técnica. Gus o perdeu de vista dentro dos
pilares de fogo.
Era de se esperar que um mago
pirotécnico fosse imune a altas temperaturas. Bom, dito e feito. Ung cancelou
sua magia, trazendo o ambiente de volta à escuridão, não fosse pelas brasas
espalhadas pela grama e a luz da lua. Suas vestimentas estavam em frangalhos.
Jolene devia saber que a magia de Ung não o afetaria. Talvez ela apenas o
tivesse jogado lá para que a luz de suas chamas o cegassem por alguns segundos.
Ela se transformou em um corvo,
negro como a noite. E se aproximou de seu oponente sem que o mesmo a
percebesse. Enquanto Ung a procurava em desespero, com ambas as mãos em chamas,
ela se prontificou sobre seu inimigo e se transformou em um elefante. O enorme
paquiderme cortou o ar sem fazer barulho. Quase tarde demais, Ung a percebeu,
então mergulhou para o lado. Jolene conseguiu esmagar o pé esquerdo dele que,
mesmo gritando em agonia, retaliou. Prontificou suas mãos flamejantes para
queimá-la viva. Ele até teria conseguido, mas o plano de Jolene ia mais longe.
Ela havia feito com que ele se posicionasse em um ponto estratégico antes de se
jogar nele. Quando ele mergulhara para o lado, suas mãos afundaram na lama que
circundava o lago. Agora, com seus dedos e palmas úmidas e sujas de terra, sua
magia fora nulificada. A luz da lua refletida no espelho d'água do lago
permitiu que Gus testemunhasse Jolene se transformando rapidamente em um enorme
crocodilo e mordendo Ung na altura do peito. Esse fora seu fim.
Gus não queria se meter com ela.
Evitaria o quanto pudesse. Aquelas transformações em cadeia lhes gelavam a
espinha. Bolou então um plano. A montanha nevada era alta o suficiente para lhe
prover vantagem na coleta de informações. De lá ele poderia observar as
batalhas, esperar até que sobrassem poucos magos enfraquecidos e então os
eliminaria um por um enquanto tentassem repousar e reabastecer suas reservas de
mana. Havia também a possibilidade de algum deles subir a montanha. Caso isso
acontecesse, teria de lidar com o problema. A montanha era o melhor ambiente
para que batalhasse. Se pudesse escolher um lugar vantajoso para si, seria lá.
E também não seria pego de surpresa. Tendo toda a montanha a seus pés, poderia
sentir qualquer um que se aproximasse antes mesmo que notassem sua presença.
Ele apertou o passo para chegar
lá antes que mais alguém pudesse ter essa ideia. Atravessar a floresta seria o
caminho mais curto e provavelmente o mais perigoso. Talvez a vegetação
camuflasse sua presença. Talvez ela já estivesse fazendo isso para outros.
Precisaria tentar.
Assim que colocou os pés na
vegetação alta que nascia por ali, Gus se sentiu ameaçado. Ele estava longe de
sua zona de conforto. Os únicos sedimentos que poderia usar em suas magias era
a terra debaixo de seus pés, mas a grama nela enraizada e a umidade a tornavam
difícil de se manusear. Avançou por entre a mata fechada. O nervosismo estava a
flor da pele. Ele sentia que estava sendo observado, que não estava sozinho.
Sentia também uma aura hostil que o cercava, como um tigre preparado para
saltar na garganta de sua presa. Algo ali o queria matar. Ele segurou firme nas
cinco pedras que trazia da ravina em seu bolso. Eram as armas que tinha a sua
disposição.
Continuou avançando mata à
dentro. Se pegou mais de uma vez tendo que se desviar do caminho por conta de
uma vegetação mais fechada pela qual não conseguia passar. As constelações
artificiais o mantiveram em curso. A aura hostil se fazia cada vez mais densa.
O que quer que o ameaçava não estava conseguindo mais se segurar. As pedras em
seu bolso tremiam em expectativa, refletindo seu nervosismo.
Gus escutou o assobio do ar tarde
demais. Girou sua cabeça em cento e oitenta graus apenas a tempo de ver as
lâminas de ar chegando em suas costas. Ele conseguiu manter sua base e não
cair. Sabia que logo a parte de trás de suas vestimentas estariam empapadas em
sangue. Ele procurou por Vyan. Não tinha visto o homem, mas estava certo de que
havia sido ele. Agora ele se escondia por entre as árvores.
Covarde.
Ele tirou as cinco pedras de seu
bolso. Manteve três em sua mão direita e duas na esquerda.
- Isso é o melhor que pode fazer? – Gus gritou. – Você me
pega desprevenido e tudo que consegue são dois cortes nas minhas costas? Só
pode estar brincando.
Uma risada sutil pôde ser ouvida
por cima da copa das árvores, mas era difícil saber exatamente de onde.
- Arrume um leque ou dois e depois a gente brinca. – Gus
falou, virando as costas e andando em frente. Ignorando o homem.
Outra lâmina de ar veio em
direção a Gus, mas dessa vez ele estava atento. A provocação resultara em
frutos. Gus se abaixou girando nos calcanhares e lançou uma das pedras na
direção de onde a lâmina foi lançada, enquanto a mesma passava inofensivamente
por cima de sua cabeça.
A pedra lançada avançou na velocidade
de uma bala, arrebentando a lateral de uma árvore com a qual colidiu, sem se
desviar do curso. Vyan conseguiu desviar-se dela mergulhando para a direita.
Gus parou sua pedra em pleno ar e a puxou de volta. Nesse meio tempo teve um
vislumbre de seu inimigo. O coto de sua perna esquerda estava amarrado com
gavinhas grossas as quais Gus vira com abundância pela floresta.
- Qual vai ser dessa vez, a outra perna ou um dos braços? Ou
dessa vez não pretende fugir de medo?
- Me diga você. – Vyan respondeu com desdém enquanto
mergulhava por cima de Gus. – Dessa vez estamos de igual para igual. O
resultado será outro.
Gus viu nas mãos de Vyan, um
amontoado de folhas. Não. Eram leques. Confeccionados a partir de folhas, cipós
e pequenos galhos. Naturalmente frágeis, mas encantados para ter a durabilidade
similar a de um metal pesado. Se fosse realmente verdade o que ele dizia a
respeito de seu poder estar até então cortado pela metade pela ausência de suas
armas, Gus teria problemas.
Ele jogou novamente sua pedra e
Vyan, numa pirueta, desviou para a direita. “Novamente para a direita.”, Gus
percebera. Era o padrão pelo qual procurava. Vyan abanou seus leques e criou
uma ventania desorganizada. Uma corrente de ar forçava a cabeça de Gus para
trás enquanto outra puxava suas costas pra frente. Outras cinco ou seis fortes
correntes de ar tornavam impossível que se movesse com agilidade. Estava tendo
problemas em apenas manter-se de pé. Vyan então rodopiou no ar e, com ambos os
leques unidos, criou uma enorme lâmina horizontal de vento a lançando na
direção de Gus. Ele, sem conseguir se mover direito, controlou suas outras
quatro pedras. As forçou contra o próprio corpo afim de se empurrar para trás.
Acabou, na pressa, usando mais força que o necessário. Conseguiu se jogar de
costas no chão, mas acabou com quatro hematomas redondos em ambos os ombros e
na parte de cima dos peitos, onde suas pedras o atingiram, fora a dor que
sentira quando uma raiz maciça amorteceu sua queda na altura da cintura.
Gus olhou para trás afim de ver o
estrago que a lâmina causara, mas nada parecia fora do lugar. Não queria perder
seu tempo com isso. Mesmo do chão, ele levantou uma de suas pedras e olhou nos
olhos de Vyan.
- Agora eu te pego, seu babaca. – Ele bradou.
Lançou então a pedra na direção
do mago de ar e, sorrateiramente, lançou as outras três mais para a direita de
onde o mago se encontrava.
Vyan caiu na armadilha. Esquivou
da primeira pedra com o mesmo rodopio para a direita e então foi acertado no
cotovelo direito por uma das outras três pedras. Seu braço direito caiu ao
chão. A pequena pedra levara consigo carne, músculo, ossos e tudo mais,
deixando em Vyan um segundo coto.
Gus puxou de volta suas pedras
enquanto assistia o mago do ar perder o controle das correntes que o mantinham
no céu e se estatelar no chão.
- Viu só. Te peguei. – Gus sorria enquanto massageava sua
cintura, agora empapada no sangue que escorria dos cortes em suas costas.
Vyan não respondeu. Seu cabelo
bagunçado estava jogado por cima de seu rosto, mas Gus ainda conseguiu ver o
cenho franzido e o olhar de ódio de seu oponente.
Vyan gritou, se jogando novamente
ao ar. Ele não parecia nem um pouco feliz. O coto vermelho de seu braço direito
pingava gotas grossas de sangue e Gus não o daria o tempo que precisava para
estancar o ferimento.
Ele tinha consigo suas quatro
pedras, mas não achava que conseguiria acertar Vyan novamente com o mesmo
truque. Seu plano agora era fazer a batalha durar o máximo de tempo, gastando a
menor quantidade de mana possível. Deixar que o sangramento de seu inimigo
ganhasse a batalha para ele.
Vyan agitou suavemente seu leque e,
aparentemente, nada aconteceu. Entretanto, o semblante de raiva que ele tinha
em seu rosto, levemente se transformando em satisfação ao perceber a interrogação
no rosto de Gus, dizia o contrário. O resfolegar de folhas atrás de si chamou
então sua atenção. Gus olhou rapidamente ao redor a tempo de ver uma enorme
árvore caindo em sua direção. Ele se apressou a sair do caminho. Logo, outras
árvores tombavam em sua direção, então ele teve de correr. Sabia o que Vyan
estava fazendo. Seu último ataque com os leques havia cortado grande porção das
árvores naquela área. Agora tudo que ele fazia era as empurrar com uma brisa
focalizada na direção que desejava.
Enquanto corria em círculos algo
atingiu o chão perto de seu pé. Vyan estava, além de tombando as árvores na
direção de Gus, lançando as inconvenientes lâminas de vento.
Gus correu e correu. Deu tudo de
si apenas para evitar os ataques. Não via tempo para contra atacar. Mas tudo
estava bem. Ele percebia que as lâminas de vento enfraqueciam cada vez mais.
O terreno agora estava uma
completa bagunça. Muitas árvores estavam tombadas em todas as direções,
tornando difícil a movimentação de Gus. Logo ele se pegou em um beco sem saída.
Grossos troncos ao seu redor, sem ter para onde escapar. Vyan conseguiu forças
para sorrir, como se a luta já fosse dele. Mas mesmo se conseguisse de alguma
maneira derrotar Gus, sua pele pálida e sua respiração ofegante garantiam que
ele não seria o vencedor do torneio.
Gus já estava preparado para
fazer seu próximo movimento, mas dependia da iniciativa de Vyan. Essa não
demorou a vir. O homem lançou, dessa vez, três lâminas verticais de ar, lado a
lado, se certificando de que Gus seria atingido por elas. Ele rapidamente
soltou suas quatro pedras. As erodiu e então as solidificou novamente no
formato de um disco. Pulou no disco e, com suas mãos brilhando cinza, se ergueu
ao céu.
A reação de Vyan fora impagável.
Gus, mais uma vez, escapara de suas lâminas.
- Admita, você só consegue me acertar quando eu estou
desprevenido. – Gus se gabou. – Então é assim que se voa? – Falou enquanto
manobrava seu disco. – Você faz parecer mais difícil quando cai e perde
membros.
- Está... sem suas... pedras... agora. – Vyan conseguiu
dizer entre ofegadas.
Era verdade. O disco de pedra era
do tamanho adequado para que Gus conseguisse se manter equilibrado. Ele não
podia retirar a quantidade de sedimentos necessária para formar uma pedra a ser
considerada perigosa e útil em batalha sem abrir mão de sua tão preciosa
mobilidade. Também não seria necessário. Gus tinha uma carta na manga.
Ele ergueu sua mão brilhante e
apontou para o peito de Vyan com o indicador direito, então gesticulou um chamado para si
mesmo. Demorou cerca de dois segundos até o corpo de Vyan sofrer um solavanco
para frente, na direção de Gus, e, em uma meia parábola ele caiu ao chão.
Gus se aproximou de seu inimigo
já esgotado. Transformou seu disco de volta em quatro pedras e as guardou no
bolso.
- Como... - Vyan fez dessas suas últimas palavras. Aceitando
sua derrota.
- Você está com pedra nos rins. - Gus falou, fazendo um
movimento com seu indicador direito pra cima. Uma pedra vermelha foi expelida
por um buraco nas costas de Vyan. - Para ser mais específico, foi a minha
quinta pedra. Uma que joguei em você em um dos meus ataques e depois a
pulverizei no ar para mantê-la fora de sua percepção. Confesso que controlar
todos esses sedimentos individualmente enquanto esquivava de seus ataques foi
incrivelmente difícil, ainda mais com todas essas correntes de ar. Mas no fim valeu a pena.
Ele não tinha certeza se Vyan
vivera o bastante para escutar toda a história. Agora não importava. Tinha
menos um inimigo com o qual se preocupar. Não conhecendo a respeito de
medicina, resolveu deixar o ferimento de suas costas pra lá e torcer para que o
sangramento não o prejudicasse. Seguiu então rumo à montanha nevada.
Ele saiu da floresta e atravessou
o deserto que circundava a montanha. Era uma pena não ter encontrado algum
inimigo por ali. Com toda aquela areia a seu dispor seria uma luta fácil.
Chegou à montanha. Não encontrou
um caminho ou trilha para facilitar a subida. Teria de escalar algumas centenas
de metros. Antes de começar resolveu fazer o reconhecimento da área. Afundou
suas duas mãos na rocha sólida e fechou seus olhos. Sentiu a montanha. Grande
parte dela ao menos. Estava tudo limpo. Sem sinal de inimigos. Começou então
sua longa escalada.
Mergulhava suas mãos e pés na
montanha afim de se certificar de que não cairia. Com plena segurança, fora
questão de tempo até chegar em uma altura razoável. Parava de tempos em tempos
para analisar os arredores. Estava tudo bem até ali. O vento frio começou a
bater mais forte, retardando sua calma subida.
Em um nicho seguro ele se sentou.
Respirou com calma. Meditou. Repousou. Recarregou suas energias para continuar
a subida. Quando satisfeito, abriu seus olhos. Esticou os músculos rígidos e se
uniu novamente à montanha. Procurou os arredores, mas nada chamou sua atenção.
Tateou suas costas e descobriu seu ferimento coagulado e sua veste, onde
empapada em sangue, congelada. Estava bom o suficiente para ele.
Estava bem perto do topo agora.
Não tinha noção do tempo que passara escalando. Investira uma grande
concentração de mana naquela tarefa. De onde se encontrava, toda a arena
parecia pequena. Via a floresta, devastada no centro, onde lutara com Vyan. O
lago estava agora seco até a metade e seus arredores estavam encharcados. Mais
alguém lutara ali depois de Jolene e Ung. Via alguém perambulando pelo deserto,
mas pela distância não conseguia identificar quem. Infelizmente seu alcance
mágico não era tão vasto a ponto de conseguir atacar dali. O máximo que podia
fazer era lançar uma pedra. Estava certo de que conseguia arremessar uma pedra
pequena daquela distância, mas não confiava em sua mira.
Ele se pegou pensando se aquela
pessoa seria a única que sobrara com ele na arena. Podia ser. Os outros magos
tiveram tempo o suficiente para se matarem. Ele não se arriscaria. Não depois
de subir toda aquela porção de montanha. Se aquela pessoa fosse o ultimo
inimigo, bem, que fosse. Lidaria com ele quando tivesse certeza.
Quase três dias já haviam se
passado desde que a batalha começara. Para os espectadores, é claro, o
espetáculo atingia apenas algumas poucas horas de duração. Cortesia dos magos
temporais da academia de Xel-Or. Gus ainda não sentia fome, sede ou a
necessidade de evacuar. Suas necessidades biológicas mais básicas foram bloqueadas
pelos magos silenciadores da academia de Bannok. Tudo fora pensado para que não
houvessem empecilhos durante a carnificina mágica.
Da montanha ele acompanhou o
andarilho do deserto adentrar a floresta e o perdeu por lá. Viu mais alguns
magos perdidos, procurando seus inimigos, e isso pôs fim a sua teoria de que
fosse um dos últimos. Contudo ele não os via batalhar. Não estavam se
encontrando. Teria de esperar mais. Por sorte a paciência sempre foi uma de
suas virtudes. Quando se trabalha com rochas, é imprescindível a habilidade de
permanecer parado em um lugar por dias.
Mais um dia se passou enquanto
Gus permanecia sentado na neve. Quando ele acordou, fez novamente uma varredura
da região e, ao se certificar de que não havia ninguém por perto, relaxou. Procurou
pelos outros magos nos outros locais. Algo chamou sua atenção, mas Gus não
sabia ao certo o que. A arena de repente parecia menor. E foi quando a ficha
caiu. A ravina, a savana e o manguezal não estavam mais lá. A arena realmente
estava diminuindo conforme os dias se passavam. Era uma boa estratégia dos
organizadores para forçarem os magos restantes se combaterem.
Gus resolveu subir mais a
montanha. O frio não o incomodava e a altitude artificial não modificava a
pressão atmosférica. Mais de cima ele não conseguiria uma visão mais ampla, mas
queria matar seu tempo vago de alguma forma e o resto da subida não requereria o
uso de magia, então não tinha nada a perder.
Quando ele atingiu um ponto mais
alto, se viu sendo engolido pela neve fofa. Estava ficando difícil andar por
ali. Talvez fosse a hora de parar. Decidiu limpar uma área para que pudesse ter
uma boa visão dos arredores. Começou cavando a neve fofa com as mãos nuas, mas
parou assim que uma pedra de gelo atingiu brutalmente seu ombro esquerdo.
Ele caiu no chão e se levantou
apressadamente, já retirando suas pedras do bolso.
Lá estava ela. Sentada num enorme
monte de neve ela o admirava. Era uma mulher pequena e pálida. Ela vestia um
robe branco adornado com flores de pano azul claro. Era a maga criogênica, Pia
Neil.
Gus estava confuso. Ele se
certificara mais de uma vez que não havia ninguém naquela montanha. E então ele
percebeu. Ela não estava na montanha. Estava na neve que por sua vez estava na
montanha. O quão estúpido ele era?
Ele arremessou uma de suas pedras
na direção da mulher, mas, no meio do caminho, um globo de neve se levantou do
extenso tapete branco e engoliu sua pedra, a levando inofensivamente de volta para a mão de
Pia. A mulher então sorriu para ele.
- Sua vida acabou no instante em que subiu essa montanha. –
Ela falou. – Olhe ao redor. É tudo neve. Bem vindo ao meu jardim.
- Ainda não. – Ele ripostou. - Debaixo da sua neve existe
uma montanha de pedra. Você vai ser...
- Acabou seu tempo. – Ela disse cansada enquanto suas mãos
brilhavam em um azul bruxuleante bem claro.
A neve ao redor de Gus saltou
para cima na forma de estacas sólidas de gelo. Ele fora atingido e perfurado em
aproximadamente nove lugares diferentes, sendo ao menos quatro deles letais.