sexta-feira, 24 de abril de 2015

Lótus - Capítulo 5

          Os cinco passaram o resto do dia andando. Seguiram a liderança de Lisa por ser a única que conhecia decentemente a região. Mark e Russel andavam juntos na maioria do tempo. Apesar de terem a mesma idade, Russel agia como se fosse mais velho, como se fosse obrigação dele proteger o irmão. Pararam em três casas ao todo, procurando por suprimentos. Lucas conseguiu uma mochila maior, e mais masculina, e também algumas roupas extras. Não conseguiram muita comida, mas se juntassem tudo, tinham o suficiente para três ou talvez quatro dias. Decidiram pernoitar na última casa em que pararam, pouco antes do pôr do sol. Era uma casa bem pequena e que não chamava muito a atenção. Malcolm encontrou um computador e acessou a intranet enquanto Lucas explicava a Lisa e seus irmãos como ele e Malcolm conseguiam se manter bem informados, contando sobre os Sombra e os Hienas, dos quais eles não pareciam saber muito. Lisa preparou um jantar para eles e deu a seus irmãos a tarefa de arrumarem as camas. Mark encontrou o corpo de uma velha senhora no quarto, do lado da mesa de cabeceira. Então levaram as roupas de cama e se prepararam para dormir na sala. Quando os cinco se juntaram, apertados, na mesa da cozinha para comer, os olhos de Malcolm e Lucas brilharam. Era a primeira vez em muito tempo que comeriam algo diferente de miojo. Lisa revelou ter encontrado uma pequena horta atrás da casa e conseguiu cavar umas batatas e aproveitar alguns repolhos, somado ao que encontrou na dispensa, conseguiu cozinhar algo novo para eles. Lucas sentia seus olhos encherem d'água toda vez que mastigava um pedaço de batata, já Malcolm não parava de soltar gemidos a cada mordida. Os gêmeos riram da situação, tendo Lisa como cozinheira particular, nunca precisaram se preocupar com a diversidade do cardápio. Ela conseguia se virar e improvisar com os poucos recursos que tinham. Depois de jantar, todos sentaram juntos em suas camas preparadas no chão da sala e conversaram mais um pouco a respeito de suas vidas. Malcolm revelou ter vinte e cinco anos e ter acabado de completar sua faculdade de arquitetura. Lucas tinha vinte e dois e não planejava começar uma faculdade. Lisa disse a eles que ainda era uma estudante de ensino médio e que aspirava se tornar uma chefe de cozinha algum dia. Mark queria ser um escoteiro para o resto da vida. Russel queria ser campeão de luta livre.
           Quando a luz do sol invadiu por entre os buracos na cortina da sala, Lisa acordou. Levantou-se com cuidado e foi usar o banheiro. Foi então até a cozinha e bebeu um copo de água direto do filtro. Quando ela voltou à sala para acordar seus irmãos, se deparou com um homem estranho. Ele tinha cabelo loiro curto, usava uma camisa preta, bermuda verde escura e tênis de correr, estava lendo uma revista casualmente, sentado no sofá, bem perto de onde os outros dormiam. Lisa gritou, acordando a todos de uma maneira bem desagradável.
- O que houve? - Lucas indagou ainda bocejando.
- O que quer da gente? - Lisa tateou em volta de si e conseguiu um vaso de plantas mortas com o qual se armou. - Saia daqui agora ou vou te machucar.
           Malcolm despertou por completo no instante que ouviu o grito, ele se levantou em um salto e, percebendo o estranho, se colocou na frente dos gêmeos.
- Fiquem calmos. - Disse o homem tranquilamente enquanto folheava sua revista sem dar muita atenção a eles. - Não estou aqui pra machucar ninguém. Se eu quisesse já o teria feito.
           Todos permaneceram calados por um momento. Lisa ainda segurava o vaso de plantas na altura da cabeça, preparada para lançá-lo se necessário. Mark se arrastou mais pra perto do irmão que o empurrou para trás de si. Lucas, agora acordado, se levantou e olhou para Malcolm. Ele sabia que seu amigo estava pensando a respeito da situação e que ele viria logo com um julgamento. Malcolm se acalmou, foi até a mesa de centro localizada na frente do sofá onde o homem estava e se sentou nela. Cara a cara com o estranho ele perguntou.
- Quem é você e o que faz aqui?
- Bom, acho que terei de responder suas perguntas se pretendo que confiem em mim. - Disse o homem colocando a revista de lado e olhando nos olhos pretos de Malcolm. - Eu me chamo Pietro Miranda e venho aqui lhes fazer uma proposta.
- Lisa, a gente conhece ele. - Disse Russel. - A gente já, bem, a gente já roubou dele.
           Lisa andou de lado, mantendo o vaso em posição de ataque, até conseguir enxergar seus olhos azuis.
- É ele mesmo. - Lisa disse preocupada. - Se veio atrás dos seus pertences, pode levar. Só nos deixe em paz.
- Eu não quero nada de volta. - Pietro falou enquanto ainda encarava Malcolm nos olhos.
- Veio se vingar então? - Lucas se posicionou atrás do homem, para o caso de precisar agir.
- Se ele estivesse atrás de vingança já haveriam casualidades. - Disse Malcolm. - Ele diz a verdade. Vamos ouvir sua proposta.
           Pietro sorriu com sinceridade para Malcolm e se levantou calmamente do sofá. Andou até um canto da sala e se virou para ficar de frente para todos os outros.
- Eu sou um recrutador. Venho em nome dos Formigas. - Pietro disse.
- Formigas? - Indagou Lucas. - Alguém sabe do que esse cara está falando?
- Os Formigas são um dos clãs da região. - Disse Lisa, abaixando enfim o vaso de plantas. - Eles são pacíficos e preferem o anonimato. Ouvi isso de um homem que espiamos, logo antes de roubarmos dele. Não sei mais do que isso. Confesso que pra mim eles são lenda.
- Não, não somos. - Afirmou Pietro. - Por sermos pacíficos, não saímos por aí pichando formigas pelos prédios. Achamos que chamar a atenção e reivindicar territórios pode atrair pessoas que queiram nos prejudicar.
- Você falou que é um recrutador. - Malcolm disse. - Como nos encontrou e porque vir até nós?
- Direto ao ponto. Gosto disso. - Pietro analisou. - Como eles mesmos disseram, já nos encontramos antes. Há alguns dias atrás eu cai na emboscada desses três. A encontrei amarrada pedindo por ajuda e quando menos esperava estava desmaiado no chão. Segui seus rastros e os encontrei numa rua, caminhando. Os segui desde então.
- Quer dizer que você esteve nos seguindo por todo esse tempo? - Russel perguntou. - Mas faz quase uma semana que a gente te roubou.
- Estou seguindo vocês por quatro dias, para ser preciso. Sabem, meu trabalho como recrutador é encontrar pessoas, avaliá-las e então convidá-las a se juntar ao nosso grupo. O período de avaliação costuma demorar ou não dependendo da pessoa. No caso de vocês, a avaliação começou positivamente quando decidiram não me matar. Com isso, segui vocês até encontrar uma oportunidade de fazer o convite, sabia que seria difícil a abordagem, principalmente com vocês três suspeitando de mim após eu ter me tornado uma de suas vítimas.
- A gente ainda não acredita em você. - Rosnou Russel.
- Imagino que não. Eu cheguei a querer desistir de vocês, mas então ele apareceu. - Pietro apontou para Lucas. - Então fiquei curioso para ver qual seria o desfecho daquele encontro. Quando ele a encontrou no escritório eu estava em um outro prédio, assistindo com meu binóculos. Vi, novamente, toda sua encenação. Enquanto você... - Apontou pra Malcolm. - ...entrava no prédio. Quando pensei que as coisas não poderiam ficar mais interessantes, o plano dela falhou. Eu vi tudo acontecer de camarote. Quando você voltou para o escritório carregando o almoço eu tive que segui-lo, enquanto conversavam eu fiquei de espreita na porta, ouvindo a conversa de vocês. Tive que me esconder bem rápido quando ela mandou seus irmãos para o terraço, mas no fim tudo deu certo. Vocês saíram pela porta da frente e não me viram atrás do balcão no primeiro andar.
- Você veio até nós pois nos julga pessoas boas e quer que integremos no seu clã. - Disse Malcolm.
- Sim. É isso mesmo. Apesar de não sermos um clã. A palavra clã dá a ideia de família. Nós nos consideramos um grupo comunitário. Algumas pessoas de fora começaram a nos chamar de Formigas, por trabalharmos em grupo, mas não trabalhamos para uma "rainha". Não era como gostaríamos de ser conhecidos, mas agora é tarde para mudar isso.
- E o que nós ganhamos com isso? - Disse Lucas. - Ou melhor, o que precisamos fazer?
- Vocês ganham segurança e um lugar fixo para viver. Minha palavra, ou a de qualquer um dos recrutadores, é o suficiente para autorizar o ingresso de vocês. Eu os escoltaria até nossa casa e lá eles os organizariam em um lugar apropriado e lhes dariam tarefas a cumprir. Nós trabalhamos juntos para mantermos uma qualidade de vida no mínimo decente nessa época de crise.
           Malcolm ouviu tudo que precisava e pediu a Pietro um tempo para avaliarem a oferta. Pietro saiu da casa prometendo voltar por volta do meio dia para obter uma resposta final. Os três mais velhos se juntaram depois de seus rituais matinais para chegar a uma decisão enquanto os gêmeos tomavam banho juntos.
- Acho viável. - Disse Malcolm, olhando especialmente para Lisa. - Eles oferecem proteção. Com isso não vai precisar ir atrás de armas na casa da sua tia.
- Eu não sei Malcolm. - Lisa mostrou-se preocupada. - A oferta é boa demais para ser verdade.
- Acho que a gente pode confiar nele. - Lucas disse. - Não soa ridículo um grupo de pessoas se juntarem para passar por isso. Afinal, é o que estamos fazendo.
- E você mesmo disse que conhecia esses Formigas. - Disse Malcolm. - Não deve ser uma história inventada.
- Então eu não tenho escolha, não é? - Disse Lisa. - Dois votos contra um.
- Não Lisa. Você representa três aqui. - Explicou Malcolm. - A escolha é, literalmente, toda sua.
- Não queremos e nem podemos obrigar você a arrastar seus irmãos contra sua vontade. - Lucas falou. - O que você quer fazer?
           Lisa agradeceu aos dois e pediu um tempo para pensar. Ela conversou a sós com seus irmãos enquanto Malcolm e Lucas passavam seu tempo lendo as novidades na intranet. Mais uma vez, os Sombra haviam matado um grupo de um clã inimigo, dessa vez os alvos tinham sido membros dos Eclipse.
           Quando Pietro voltou, os cinco estavam esperando na sala. Já haviam almoçado e guardaram um pouco de comida para Pietro que aceitou de bom grado. Lisa acabou decidindo ir com eles, e juntos, os cinco seguiram seu guia pelas ruas de Cargo. Algumas horas depois, ainda estavam caminhando pelas ruas, tomando cuidado para não atrair muita atenção, Pietro parou por um segundo e acenou sutilmente para cima de um prédio. Lucas e Malcolm perceberam a ação e viram uma pessoa retribuindo o gesto de uma das janelas mais altas daquele grande edifício.
- A partir de agora estamos em nosso território. - Explicou Pietro. - Nossa base fica mais pra dentro, mas temos vigias por todo o perímetro. Se alguém estranho entra na nossa região, os vigias entram em contato com a base por meio de um rádio e os moradores se preparam.
- Pensei que fossem um grupo pacífico. - Disse Russel. - O que quer dizer com "se preparam"?
- Para grande parte dos membros é dado um toque de recolher. Todos são acomodados dentro do prédio principal e alguns batedores são enviados para tentar desviar o curso do invasor. Um de nós, recrutadores, passa a seguir a pessoa em questão para avaliar seu comportamento e descobrir se a pessoa está apta a se juntar ao grupo.
- Me desculpe a curiosidade, mas, como exatamente os batedores desviam o curso do invasor? - Perguntou Lucas.
- Não sei ao certo. Cada um tem um tipo de abordagem. Conheço uma garota chamada Hannah que assusta as pessoas com barulhos fantasma, sabe? Uma lata de lixo que cai sozinha, um vidro se quebrando, o alarme de um carro sendo acionado. Coisas assim.
- Interessante. - Malcolm disse. - Já houve a necessidade de matarem alguém?
- Não que eu saiba. - Pietro apertou o passo. - Vamos um pouco mais rápido, estamos quase lá.
           Mais vinte minutos de caminhada os levaram até uma área habitada. Pessoas acenavam para eles das varandas, cães corriam pelos quintais e crianças brincavam nas ruas. Algumas pessoas saudavam Pietro pelo nome conforme eles passavam. Era muito estranho ver tantas pessoas num lugar só, vivendo suas vidas como se nada tivesse acontecido. Um pouco mais pra frente, Pietro os levou à porta de um prédio alto, de aproximadamente dez andares. Ele disse que aquela era a sede dos Formigas, e que as pessoas dali os guiariam pelo resto das etapas de admissão. Dentro do prédio, uma mulher bastante simpática os atendeu, ela parecia ter por volta de uns trinta e poucos anos, tinha uma linda pele negra, usava um par de brincos em forma de argola grandes o suficiente para se passar uma maçã por entre eles, uma blusa branca que se segurava em apenas um de seus ombros, uma saia longa estampada com diversos tipos de flores e usava seu cabelo preso em um coque. Pietro fez as apresentações, a mulher se chamava Mégara, e era responsável por aqueles que se juntavam ao grupo. Pietro os deixou nas mãos dela e saiu do recinto.
- Bom, agora que fomos apresentados. - Disse Mégara, terminando de anotar os nome em sua prancheta. - Deixe-me levá-los até um lugar mais apropriado para conversarmos.
           Ela os guiou até uma pequena sala, ali mesmo no primeiro andar. Ao entrarem, todos perceberam que aquilo era uma sala de aula. Cadeiras estavam dispostas em fila, viradas para uma grande mesa, como a de um professor. Atrás, na parede, se encontrava um mapa onde ficaria um quadro negro. Mégara se sentou à mesa e pediu para que eles ficassem a vontade. Os três mais velhos se sentaram na primeira fileira, Russel escolheu uma cadeira mais ao fundo e Mark o seguiu.
- Vou começar contando-lhes o que somos e como começamos. Peço para que se tiverem alguma pergunta levantem sua mão.
           Mégara os encarou por uns segundos com um belo sorriso no rosto, esperando alguma confirmação. Os cinco continuaram encarando-a, então ela continuou.
- Muito bem. O nosso fundador era o síndico desse prédio onde nos encontramos agora. Sendo um ex-militar aposentado, o Sr. Araújo sempre se encaixou bem no perfil de líder. Já no primeiro dia ele nos juntou na sala de reuniões do prédio e estabeleceu uma espécie de força tarefa para ajudar os sobreviventes da região. No terceiro dia ele já havia nomeado líderes que comandavam atividades específicas, como controle de pessoal, inventário e distribuição de suprimentos. No sétimo dia, já havíamos salvo um grupo de idosos de um asilo próximo e algumas crianças órfãs. Poucas das pessoas que moravam nesse prédio continuam vivas, mas as pessoas de fora que salvamos foram inspiradas pela generosidade do Sr. Araújo. Infelizmente a doença o levou no décimo dia, mas nós não deixamos que seu trabalho duro fosse em vão. Levamos seu legado adiante. Conforme o tempo foi passando, tivemos que tomar algumas medidas de segurança para a proteção de nossos membros, como os vigias, batedores e recrutadores, os quais o Pietro já deve ter mencionado a vocês. Aqui no prédio principal nós controlamos todo o grupo. Temos os nomes de todos os membros, assim como suas funções, onde estão morando e suas contribuições para com a comunidade. Nos andares de cima, alguns dos apartamentos foram modificados para servirem de grandes cozinhas, em outros estocamos os mantimentos que possuímos, o quinto andar é o responsável pela comunicação com os vigias e por aí vai. - Mégara parou quando viu a mão de Lisa levantada. - Alguma dúvida, Srta. Elisabeth?
- Todos os membros tem uma função?
- Sim. Todos aqueles capazes de trabalhar.
- Nós podemos escolher as nossas?
- Em tempos de crise vocês podem ser reorganizados para realizar uma tarefa específica, mas enquanto continuarmos prosperando deixaremos que escolham suas funções.
- E há uma lista?
- Há sim. - Mégara continuou. - Podem escolher entre estas: Cozinha, plantio, pilhagem, distribuição de alimentos, transporte ou enfermaria.
- E quanto aos batedores, vigias e recrutadores? - Perguntou Lucas. Sem levantar a mão.
- Levante a mão, Sr. Lucas. - Repreendeu Mégara, sem tirar seu sorriso do rosto. - Para assumir um desses cargos é necessário treinamento. Este você poderá receber de pessoas com o mesmo cargo, mas precisará esperar até um deles estar disponível. Aconselhamos que os novos membros passem ao menos umas semanas com a comunidade antes de pedir por um desses cargos. Conhecendo as pessoas daqui fica mais fácil querer protegê-las.
- Entendo. – Respondeu Lucas.
- Não precisam escolher suas funções hoje. Lhes daremos um dia para que pensem a respeito. Atribuirei agora uma residência desocupada para vocês. - Mégara se levantou e virou-se para o mapa na parede. Bateu suavemente com a ponta do lápis em sua boca enquanto pensava. - Creio que os cinco não se incomodarão em dividir uma casa. Ou devo escolher uma separada para os irmãos Donnoval?
           Malcolm e Lucas olharam para Lisa, que foi pega de surpresa.
- Sem pressão Lisa. - Disse Malcolm. - Vamos entender se quiser ficar sozinha com seus irmãos.
- Não, não. - Lisa disse de imediato. - Vamos ficar todos juntos. Não tem problema.
- Tudo bem. Então colocarei vocês na casa 255 da rua onze. - Disse enquanto tomava nota em sua prancheta. - Antes de irem, peço para que deixem todos os seus suprimentos comigo. Não precisarão se preocupar com eles. Serão adicionados a nossa dispensa. Suas refeições serão entregues em suas casas ou locais de trabalho nos horários marcados. Qualquer problema de saúde ou necessidade em especial deverá ser informada de imediato a central. Não podemos proibir que tenham suprimentos em suas casas, mas pedimos para que se o tiverem entreguem-nos. Lembrem-se que nós vivemos em grupo e para o grupo. Agora só mais uma coisinha e então os levarei até sua nova casa. Venham comigo
           Ela os guiou para a portaria, onde deixaram tudo que tinham, inclusive as roupas extras. Uma senhora de idade, muito bem humorada, tirou suas medidas e disse que lhes seriam entregues roupas de seus respectivos tamanhos ainda naquele dia. Enquanto suas medidas estavam sendo tiradas, dois homens entraram no recinto e chamaram Mégara até um canto para uma conversa em particular. Malcolm os espiou de canto de olho. Viu que em certo ponto da conversa um dos homens olhou para eles e apontou. Mégara anotou mais algumas coisas em sua prancheta e voltou, junto dos dois homens, até o grupo. Quando a senhora terminou de anotar as medidas em uma folha de papel, ela a entregou para Mégara e se despediu apertando as bochechas dos gêmeos. Mark sorriu massageando sua bochecha. Russel cruzou os braços e fingiu que nada tinha acontecido.
- Desculpe pedir isso de vocês. - Disse Mégara com um sorriso no rosto. - Tenho aqui comigo Rupert e Arthur. Recrutadores. Eles estavam indo fazer uma entrega agora, mas dois dos outros recrutadores que os acompanhariam ainda não retornaram. Sozinhos não são capazes de carregar todo o material. Levaria um tempo até remanejarmos alguém para acompanhá-los e nós temos um horário marcado para fazer a entrega. Eu sei que vocês acabaram de chegar e entenderei completamente se recusarem, mas, será que poderiam ajudá-los? Estimo que vocês retornem à sua casa ainda esta noite.
- Os dois garotos mais velhos serão o suficiente. - Disse um dos homens, o de barba grisalha.
- Tudo bem, nós podemos ir. - Disse Lucas, de súbito. - Aproveito e vejo melhor como trabalham os recrutadores.
- Por mim tudo bem. - Concordou Malcolm.
- Nós vamos com vocês. - Lisa falou, enquanto segurava a mão de seus irmãos. - Viajamos juntos até aqui. Não vou ser deixada para trás.
           Mégara procurou aprovação nos olhos dos recrutadores. Ambos deram de ombro.

- Tudo bem. - Concluiu o segundo recrutador. - Esperem aqui enquanto buscamos a encomenda.